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A mostrar mensagens de 2013

Fio

Enquanto me esperas Sentado nesse banco Sinto-te tranquilo Como um pequeno menino Então salto e rodopio Como o vento, Num pequeno assobio E enquanto danço e voo Sem olhar, sem pasmar Sonho... E enquanto sonho Continuo a ver-te Sentado como um menino À espera do meu carinho

Lua cheia

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Recordo-me de passearmos Dos nossos dedos entrelaçados Conversarem no silêncio Dos passos conquistados Recordo-me de dançarmos E dos nossos corpos balançarem Numa coreografia imaginada Em passos dançados  E nesse silêncio tão só nosso, Tão só meu, por entre dedos e corpos Encontro-me inteira A rodopiar na lua cheia

Nó de escuteiro

O teu olhar curioso No espelho reluzente Indaga o mistério De que luz ilumina a mente Nesse mesmo olhar Que olha curioso  Reluz nesse espelho Amor que aquece o esqueleto E nesse instante se une No teu corpo, um só Coração e mente Como se tratasse de um nó E firme como só ele Feito por escuteiro de renome Nasce um nó curioso Que engloba o teu nome.

Plátanos de Alvalade

Perfume I - Metal Sinto o teu perfume Quando pela rua vagueio Passo apressado, passo tranquilo E no ar o teu cheiro invasivo Sonho o que relembro Em passagens inesperadas De um sentir tão intenso Como as armas entoadas De um cheiro emergente De um tempo apagado porque em vão Dos sonhos sonhados de então Restam apenas pequenas ilusões e desejos vãos. Perfume II - Jasmim Esse perfume que já não cheiro Quando pelas ruas de Lisboa vagueio Passo apressado, passo tranquilo E o ar com novos cheiros me presenteia Recordo o então e vivo o agora Num balancé contraditório Entre os perfumes do passado E a fragrância de um novo fado.

As tuas letras

Naquele dia cintilante Em que os braços se renderam Os meus olhos leram O que a tua voz cantou  Desejei num primeiro momento Que as letras do papel caíssem Um segundo, um instante E as letras não caíram Toquei-as com os dedos Surpresa medo desejo Voltei a tocá-las Suspirei Toquei-as de novo Sorri E tal como lá Agora te sinto em mim E num desejo quase inato Sonho que aquelas letras Não tenham fim

Olá

Quando o anúncio da tua vinda Em mim se abateu Foi como o prenúncio de um sentido Num mundo do avesso Como por direito ele ficou Sem que à alma se reconhecesse O desejo que existia Neste mundo que agora é teu E numa reviravolta que desenha O grau dos obsoletos Emerge um horizonte Que sobre o copo cai em seco Neste instante então pergunto O que de ti me é permitido recolher De igual modo me indago O que a ti posso oferecer

Parque

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No banco que em frente vejo Sonho alto e, bem cá dentro Sinto-te lá, sentado, um garoto Um menino, um maroto Um companheiro. Olhas de soslaio Como que irrequieto E esperas o que ainda não vês. Com o dedo toco-te o ombro E sentada ao teu lado Espero que me vejas... Viras os olhos Ao meu encontro E quando o flash se ouve Estamos os dois sentados  Ao lado um do outro Neste banco em que nos amamos.

Sonho de Verão

Envolvida neste pequeno sótão Onde o mar se ilumina pelo sol Cruzo a noite tenebrosa Com o sonho d'um dia de Verão Calço os chinelos no pé descalço E sobre a pele, envolvo-me  No pano amarelo de alças, E corro no teu encalço A primavera já lá foi, na rua Canteiros cheios de flores, Margaridas sorridentes Seguem-me com todo o seu esplendor Porque na esperança de te alcançar Por elas passo a correr  Num desejo de te envolver E no meu peito te descançar Então, abro os olhos em redor Na esperança de te encontrar Mas no silêncio da hora Ouço apenas o teu olhar.

Abraço intemporal

Não acreditas em nada Nem no Diabo malvado Nem no Deus imaculado Mas quando sentes Que das nuvens Algo te enviaram Acolhes nos teus braços Aquilo de que amedrontada Fugias, arrepiada. Então ficas sentada Sem tempo porque o tempo Deixou de ser. Na sua essência. Curto, longo. Simplesmente deixou De ser. Porque este tempo Não tem tempo. E abdicando das amarras do relógio Porque envolvida nos teus braços O tempo deixa de ser tempo E passa a ser o teu abraço.

Árvore da Terra

Há uma árvore no prado Que se impõe na terra vermelha Ao lado o vazio do ar Onde respira e se deita E quando por ela passo Sinto orgulho no seu jeito Porque imponente e satisfeita É humilde no seu peito E no brilho das suas folhas Se vislumbra um tronco largo De raízes profundas e longas Espalhadas naquele cerrado Sorrio-lhe num aceno De ternura inqualificável E ela espera que eu regresse Sem que, por ela, simplesmente passe

Casa do Sotão

Uma porta aberta De uma casa vazia Onde tudo se espera Com certa melancolia Paredes brancas Verdes e vazias Chão pisado Por passos marcados Tacos que esperam Sombras futuras Móveis desenhados Num aconchego que dura Despida de quadros Cortinas e pratos Aguarda futuro Guarda passado Sentada no chão Olho as paredes Um espaço aberto Para quadros incertos E do vazio encontrado Nasce um sotão sonhado Que se preenche agora De quadros alternados

Neve num abraço

À janela saboreávamos O que a vida nos trazia Neve branca e tranquila Num frio que não sentíamos Porque abraçados e unidos Os nossos corpos aqueciam Mantendo um prazer conjunto Na visão que enaltecíamos Como se a neve não parasse Continuámos abraçados Na esperança ilusória De que a fantasia não se quebrasse Na noite fria que agora se deita Sinto a neve cair Lá fora...à espreita... E como no dia em que a vimos Abraçados num começo Aceno-lhe agora Num adeus de recomeço E do outro lado da rua Num jeito que é só teu Vejo-te olhar e sorrir Usando o teu corpo num adeus E assim os corpos que usámos No começo do que era nosso Também agora se despedem No adeus que é só nosso E as mãos que então amaram E a mesma música tocaram Tocam agora a neve que vimos Naquele dia abraçados

Olhos de cristal

São os olhos de cristal Feitos de luz e esperança, Que despertam em mim a crença De que a felicidade sempre se alcança; É a pele cheia de luz e vida, Por preencher de rugas e dôr; É o sorriso que não descansa Porque em tudo existe côr. E quando nos olham, tudo esperam! Como se tudo ousassem ter... Sem resposta, ficas incrédula, Porque é esperança sem sensatez... E o que sentes é felicidade, Aquela... a mais pura À qual baixas o braço... Porque não resiste, perdura. E quando ao espelho te vês, Abraças a luz que não é tua. Sentes e recebes nas tuas mãos, A pele que, afinal, era a tua.

A côr do mar

E quando as ondas teimam em levar-te Para mundos onde não desejas ir, O sal na pele se entranha Deixas de ser corpo, viras mar. Um mar nem tanto azul nem tanto verde, Não como aqueles dos postais. É uma côr assim-assim, Como as ondas daquele mar. Não se quebram neste instante Porque construídas agora assim, Em partes, mais inteiras, Relembram-me as ondas daquele mar. Descanso as pálpebras e, por momentos, Sinto o teu cheiro chegar a mim O vento que me sussurrava trazia Contigo, desatino e tranquilidade. Longe de ti, volto a abrir os olhos, Vejo-te, Sinto-te, Cheiro-te... Não era o horizonte que esperava Era descobrir a côr do meu mar.

Um só

Um corpo abraçado Por um toque que deseja Um medo desmanchado Pela cobiça d'uma cama E no abraço que os une Pele e alma se reúnem Num só corpo, oportuno Abraço que enlaça um só mundo E o todo que germina num só Aconchegado em flanela Deita as lágrimas, finalmente Do desejado que não tivera. Num caminho  interminável Feito de pedras e betão Interrompe com a sua mão E abraça o Desejo Caminham lado a lado No cair dessas pedras Pesadas, incomportáveis E por isso não a carrega E o corpo, num instante Leve, livre e cansado Permite-se repousar Nesse abraço interminável.

Tango

Agarro-me às palavras Como as letras se desejam Num conjunto quase inato Recalcado na natureza. E elas brotam como flores Rosas, margaridas Sem adubos ou aditivos, São simples arritmias. Promovem sonhos Na noite e no dia, Vivem e sentem Tal alma descabida. Letras e palavras Dançam nestas linhas Como um tango desenfreado Que assombra e arrepia, Como a pele que se cobre De penugem em sobressalto Uma alma que renasce Num corpo apagado E unem-se no tango, Numa valsa sempre a dois Como dois amantes na cama Um orgasmo para os dois.

Uma Carta de Amor

S ão cartas de amor .   E percebo que podem ser cartas de amor.   Qu ando ele compreendia  Quando ele me oferecia aquilo que eu precisava. Que não era um todo ou um todo que era nada. E é isto que amo, E por isso escrevo estas linhas. Porque são cartas de amor. Que mais não são do que o branco entre as linhas. As entrelinhas, o cinzento que Nem branco nem preto É só diferente .   O que é? Certo, que não sei ainda... É só diferente. Por isso, tu és tão diferente E por isso me apaixonei. É uma carta de amor! E foi agora Neste preciso momento. Este instante, Que foi agora! Neste exacto momento... Em que o senti. É uma carta de amor! Esse teu jeito de dar Que não é o tudo ou o nada. Mas com o que tens dentro, Que dentro de ti, é meu. E sentindo que estás... Que bom! É uma carta de amor! E querido, talvez assim Também possa estar Não com aquilo que tens Para me dar, Mas com aquilo que és Sem seres aquilo tudo ou aquilo nada. É uma carta de amo

Rasgar

Rasgas o céu em desatino E procuras no caminho Atingir o impossível A procura d'um destino E impões-te que nem flôr Em plena Primavera Quando no fundo desejas apenas Uma alma sincera E sonhas cada vez mais Com o desconhecido e incerto Como se o céu fosse o inferno E o inferno dito certo.

Caminhada

No silêncio, Um caminho Dois caminhos Um pouco mais Na dúvida, Incertezas Questões Se levantam mais No caminho  Do silêncio Da dúvida Encontrada Chego sempre a um pouco menos Para alcançar um pouco mais.

O sal na tua cara

Entrei dentro de mim Na procura das tuas lágrimas E a dôr que senti Era o sal na tua cara Procurei com as minhas mãos Agarrar a tua água Como o trabalho da formiga Agarrámos a tua mágoa Menino-rapaz de olhos tristes Sorriso distante e comprometido Permites-me entrar na tua casa E vestir o teu vestido E assim passeamos de mãos dadas Na procura de um caminho Desejado, inspirado Pela auto-estrada do carinho E procuramos nos teus olhos A felicidade de outrora Para que na estrada insinuosa Novos caminhos se desdobrem

O beijo d'uma flôr

Olho nos teus olhos, deslumbrados Pela maravilha da imaginação O teu sorriso escancarado Pelo amor no coração E a lágrima no canto do teu olho Feita de alegria e satisfação É como o beijo de uma flôr Num dia de Verão

No portão verde

Num abraço de esperança, Um castelo construído. Portas abertas na herança De um coração preenchido. Rumo à dúvida e incerteza Satisfaz o desejo De nos olhos de pequena Alcançar o copo cheio. Taquicárdia compulsiva Pela esperança renascida, No esplendor de uma vida, Uma simples tentativa. Vislumbrado ao longe Um castelo atordoado, Fechado que nem monge Num mosteiro abandonado. Bate ao portão verde, deslumbrada Pelo amanhecer de um novo dia Esperança redobrada Numa alma renascida. Mas as portas encerradas Do castelo atordoado São como tempestades inesperadas Num ilhéu abandonado. Rumo diferente, mas em frente Como um passo seguro, De um passeio pela mente De uma ilha com futuro.