Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2012

Este

Este texto tem o objectivo de tudo e de nada. Começou por uma dúvida. Simples e curriqueira. Fazêmo-la imensas vezes... “Será que vai chover amanhã?”. E todos nós sabemos que por mais atento que estejamos ao instituto de meteorologia, eles assumem, com toda a confiança, que é uma previsão, não é uma certeza. E foi com a confiança na dúvida e com a seta do cupido, ou não, que me apaixonei perdidamente pela palavra. Não a dúvida em particular. Qualquer palavra. Agora vivo com a palavra, e a minha vida tornou-se um desequilíbio maravilhoso. E, na noite, sim foi numa noite de Inverno que caí perdidamente nos braços das palavras e das letras, e cheia de dúvidas mas com a decisão de sair do buraco negro, mesmo porque lá só há negro e estou cansada da escuridão do negro. Já conheço o negro, agora quero conhecer a palavra branco, roxo, vermelho, laranja, todas. Quantas vezes me aqueceu a cama o laranja-avermelhado... Agora finalmente vou conhecê-la. Mas como dizia, e foi nessa noite, que isto

Caretas no espelho

Fixou-se no espelho e começou a fazer caretas. Que cara terrível! Mais velho e diferente daquilo que imaginava. Achava-se uma criança morena, de olhos claros e cabelo russo do mar. Afinal não é uma criança, é um homem de cara branca, ligeiramente marcada, olhos escuros, sem brilho e arrumados em buracos fundos, lábios grossos e vermelhos demais. E o medo, normalmente aterrorizador, não foi, desta vez, mais forte do que a curiosidade. E ali ficou, especado, a fazer inúmeras caretas. Até que os seus olhos pararam nos olhos do espelho porque ficou siderado pela tristeza que neles via. Simpaticamente, desatou num pranto. E quando não é o seu espanto, as lágrimas que lhe caiam dos olhos e percorriam as suas bochechas, eram exactamente as mesmas que escorriam nos olhos e nas bochechas do espelho. Sem mais, cumprimentou-se. 
"E se quiser colocar um sentimento no lugar da razão, aí sim não será razoável"

Na dúvida, o mínimo é o orgasmo

Ao olhar o horizonte de luzes, pela janela, molhada da chuva, vieram-me duas palavras ao pensamento: dúvida e responsabilidade. E não é a dúvida, palavra de seis silabas, não é o acento no u, não é a composição da palavra, nem sequer a posição dela numa frase. É a palavra de seis sílabas, com acento no u, com o d em primeiro lugar, o u com o tal acento, seguido do v e logo atrás o i. Segue-se de novo o d, seguido do a. Não! É mais do que isso. E mesmo que a palavra composta se inclua, com vontade própria, numa frase, ela ainda é mais do que isso. Ela é a força e a fraqueza em cada um de nós. Ela é vida, ela é desequilíbrio no equilíbrio, é um vôo rasante, um milésimo de segundo, um triz. E se tiver a sorte ou o azar de ser incluída numa frase, e mais do que incluída numa frase qualquer, estabelecer nessa frase uma relação com a palavra responsabilidade? Seja qual for o cariz. Vamos imaginar, cariz sexual. Gostamos sempre de falar de sexo. Vamos imaginar a dita relação na

Na Cozinha

Procuro no teu cheiro No toque do teu corpo, O amor que não é teu E a vida que não é minha. Procuro na nossa presença E no cheiro da tua cozinha, O cheiro de outrora E a cozinha que não é minha. Procuro na tua vida Como a esperança de criança, O sentir da ilusão E o sonho que é vida. Procuro a continuação Da esperança e do sonho, Que caiu como o teu cheiro Ruidosamente, no chão.