Caretas no espelho

Fixou-se no espelho e começou a fazer caretas. Que cara terrível! Mais velho e diferente daquilo que imaginava. Achava-se uma criança morena, de olhos claros e cabelo russo do mar. Afinal não é uma criança, é um homem de cara branca, ligeiramente marcada, olhos escuros, sem brilho e arrumados em buracos fundos, lábios grossos e vermelhos demais. E o medo, normalmente aterrorizador, não foi, desta vez, mais forte do que a curiosidade. E ali ficou, especado, a fazer inúmeras caretas. Até que os seus olhos pararam nos olhos do espelho porque ficou siderado pela tristeza que neles via. Simpaticamente, desatou num pranto. E quando não é o seu espanto, as lágrimas que lhe caiam dos olhos e percorriam as suas bochechas, eram exactamente as mesmas que escorriam nos olhos e nas bochechas do espelho. Sem mais, cumprimentou-se. 

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