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A mostrar mensagens de fevereiro, 2013

Neve num abraço

À janela saboreávamos O que a vida nos trazia Neve branca e tranquila Num frio que não sentíamos Porque abraçados e unidos Os nossos corpos aqueciam Mantendo um prazer conjunto Na visão que enaltecíamos Como se a neve não parasse Continuámos abraçados Na esperança ilusória De que a fantasia não se quebrasse Na noite fria que agora se deita Sinto a neve cair Lá fora...à espreita... E como no dia em que a vimos Abraçados num começo Aceno-lhe agora Num adeus de recomeço E do outro lado da rua Num jeito que é só teu Vejo-te olhar e sorrir Usando o teu corpo num adeus E assim os corpos que usámos No começo do que era nosso Também agora se despedem No adeus que é só nosso E as mãos que então amaram E a mesma música tocaram Tocam agora a neve que vimos Naquele dia abraçados

Olhos de cristal

São os olhos de cristal Feitos de luz e esperança, Que despertam em mim a crença De que a felicidade sempre se alcança; É a pele cheia de luz e vida, Por preencher de rugas e dôr; É o sorriso que não descansa Porque em tudo existe côr. E quando nos olham, tudo esperam! Como se tudo ousassem ter... Sem resposta, ficas incrédula, Porque é esperança sem sensatez... E o que sentes é felicidade, Aquela... a mais pura À qual baixas o braço... Porque não resiste, perdura. E quando ao espelho te vês, Abraças a luz que não é tua. Sentes e recebes nas tuas mãos, A pele que, afinal, era a tua.

A côr do mar

E quando as ondas teimam em levar-te Para mundos onde não desejas ir, O sal na pele se entranha Deixas de ser corpo, viras mar. Um mar nem tanto azul nem tanto verde, Não como aqueles dos postais. É uma côr assim-assim, Como as ondas daquele mar. Não se quebram neste instante Porque construídas agora assim, Em partes, mais inteiras, Relembram-me as ondas daquele mar. Descanso as pálpebras e, por momentos, Sinto o teu cheiro chegar a mim O vento que me sussurrava trazia Contigo, desatino e tranquilidade. Longe de ti, volto a abrir os olhos, Vejo-te, Sinto-te, Cheiro-te... Não era o horizonte que esperava Era descobrir a côr do meu mar.

Um só

Um corpo abraçado Por um toque que deseja Um medo desmanchado Pela cobiça d'uma cama E no abraço que os une Pele e alma se reúnem Num só corpo, oportuno Abraço que enlaça um só mundo E o todo que germina num só Aconchegado em flanela Deita as lágrimas, finalmente Do desejado que não tivera. Num caminho  interminável Feito de pedras e betão Interrompe com a sua mão E abraça o Desejo Caminham lado a lado No cair dessas pedras Pesadas, incomportáveis E por isso não a carrega E o corpo, num instante Leve, livre e cansado Permite-se repousar Nesse abraço interminável.